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O sol da majestade é um espelho

O sol da majestade é um espelho é o título provisório do livro que está nascendo da reescrita de minha tese de doutorado Se uma nova palavra, se uma nova imagem que trata da relação entre a palavra e a imagem no manuscrito persa medieval A Linguagem dos Pássaros , hoje parte do acervo de arte islâmica do Metropolitan de Nova York. Aqui está um fragmento da introdução. espero que gostem da leitura enquanto aguardam a publicação completa.

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A tomada de consciência do que nos orienta numa produção artística e dá sentido a ela, determina nossa biblioteca particular de imagens e textos. Nessa biblioteca habitam muitos autores e artistas amados que por se tornarem parte das referências estéticas e simbólicas em nossa vida, serão lembrados ou  reverenciados no que fazemos, seja em que tempo for. Não creio que seja um privilégio do universo das artes, pois reconheço que esses encontros estão, intrinsecamente, vinculados à consciência de quem somos, o que nos formou e sua manifestação em nosso modo de agir no mundo.

 

Quanto  a mim, tenho mantido por perto autores e artistas que dialogam com a natureza mística e transcendental própria de uma arqueologia das imagens, do invisível e do sagrado manifesto através delas em antigos rituais. Digo isso porque é inegável que as primeiras imagens surgem na história humana para realizar uma ponte entre o mundo real e o que estava além dele, materializando imaginariamente um significado para aquilo que era, não apenas desconhecido mas, sobretudo, divino. Essa função mística da imagem pode ser comprovada nas pinturas rupestres, nos hieróglifos egípcios, nas imagens religiosas da Idade Média e do Renascimento. Daí sua função de “dar a ver”, “assemelhar-se a”, “tornar presente o que está ausente”, “tornar visível o invisível”, “dar a conhecer” e, consequentemente, atuar como um convite à construção de novos sentidos sobre si mesmo e o mundo, 

 

Esse modo particular de me relacionar com as imagens e, consequentemente, com a arte, me aproximou de histórias que narram o surgimento do mundo em diferentes culturas: os Mitos de Origem, nos quais sempre encontrei um grande prazer.

Quando falamos de uma narrativa mitológica é preciso ter em mente porém que tais histórias são constituídas por personagens cujas experiências ultrapassam os limites que definem a existência comum de um ser humano. Em todas elas há um momento no qual algo de extraordinário é vivenciado por eles dentro da sua condição de existência. A leitura de histórias míticas amplia nossa visão de mundo dando asas à nossa imaginação, como se nos dissesse que podemos ir além do que somos ao transcender nossas potencialidades, tal como acontece com os personagens míticos.

(...e continua)

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